Um dos pilares da Egbé Mostra de Cinema Negro, nascida em Sergipe, é a educação. Desde sua primeira edição, em 2016, o compromisso de compartilhar histórias que nos ajudam a entender o espaço que ocupamos hoje norteiam nossas ações fora do período da mostra e, em novembro, não poderia ser diferente. Semanas calorosas, de muita troca e, também, celebrações alusivas ao Dia da Consciência Negra marcaram nossas atividades em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Alcebíades Melo Vilas Boas.
Durante a Semana de Antropologia da UFS foi realizada, na Sessão Extramuros, a atividade “As relações raciais e o cinema negro brasileiro”, organizada pela Egbé, pelo Grupo de Estudos de Relações Raciais no Brasil, e pelo Grupo de Estudos Pós-abolição no Mundo Atlântico. A mostra exibiu os filmes “Jardim”, de Fernanda Almeida, “Imã de Geladeira” de Carolen Meneses e Sidjhonatas Araújo e “Quilombo caixa d’agua” de Marcos Santos, todos filmes sergipanos.
De acordo com Luciana Oliveira, diretora geral da Egbé, a curadoria foi pensada a partir da proposta do evento: discutir temáticas que lidam com relações sociais no Brasil impactada pelo racismo e por uma política de estado que, direta ou indiretamente, causa o genocídio de pessoas negras, além de falhar na assistência à esta parte da população nas escolas, no ambiente de trabalho e, também, na área da saúde. Para além disso, a curadoria levantou questões de subjetividade e identidade afro-sergipana por meio do audiovisual.
A Egbé Mostra de Cinema Negro celebra esse trânsito dentro dos espaços acadêmicos de formação. “Acho que esse tipo de intercâmbio entre quem está na prática e quem está pensando sobre o cinema negro é muito importante. Esse espaço de pensar e fazer cinema é próprio do nosso cinema negro brasileiro”, reitera Luciana.
Participaram dos debates a atriz Quesia Souza, Irivan Santos e Leno Andrade, além das/dos realizadoras/es dos filmes. A atividade foi organizada por Luciana Oliveira, diretora geral da Egbé e doutoranda em sociologia, Lucas Vieira, também doutorando em sociologia, e o professor Petrônio Domingues, do PPGS/UFS.
Cinema e educação básica
Recepcionados na Biblioteca Municipal Ivone de Menezes Vieira, os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Alcebíades Melo Vilas Boas, entre 8 e 15 anos, participaram com muita satisfação da exibição produzida em parceria com a Egbé.
Foram exibidos os filmes “Corre” com direção de Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo e o filme “Geruzinho”, dirigido por Juliana Teixeira, Luli Morante e Rafael Amorim. “Por serem filmes sergipanos os alunos se identificaram com alguns espaços e com a situação mostrada no filme ‘Corre’”. Além disso, a história do bloco Descidão dos quilombolas, abordada no ‘Geruzinho’ levou surpresa porque poucos conheciam a existência do grupo e gostaram muito do ritmo musical”, ressalta João Brazil, diretor de produção da Egbé.
Apesar de o cinema ser um recurso didático poderoso, ações como essa tendem a se concentrar no mês de novembro, apesar da Lei 10.639. “A lei é importante para que a gente possa sensibilizar os alunos e todos colaboradores da escola em relação a história e cultura afro-brasileira. Porém, observamos que a maioria das ações são concentradas no mês de novembro. Isso precisa ser mudado para que realmente possamos alcançar o objetivo da lei. Dessa forma, a Egbé, com o projeto de itinerância, tenta construir esse diálogo com as escolas públicas para que possamos levar o cinema negro em todos os momentos do ano, por entendermos a importância do cinema como uma ferramenta transformadora na sociedade”, finaliza João.