Tendo como inspiração projetos audiovisuais que abordam a importância da história para o pensamento político e existencial negro na atualidade, a Egbé Mostra de Cinema Negro trás como tema desta edição o conceito africano Sankofa – retornar ao passado para entender o presente e construir o futuro. Sankofa, aliás, faz parte de um conjunto de ideogramas chamado Adinkras, dos povos Akan, que tinham como propósito representar valores e ideias da comunidade situada no que, hoje, compreende parte de Gana e da Costa do Marfim.
Como símbolo, Sankofa pode ser representado como um pássaro que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás carregando um ovo em seu bico. Pode ser representado, também, como um desenho similar ao do coração ocidental. Partindo desse conceito, a Egbé Mostra de Cinema Negro convidou o artista e pesquisador Edwyn Gomes para construir a identidade visual desta oitava edição.
Durante o processo criativo, Edwyn Gomes se voltou para sua própria pesquisa acadêmica com enfoque na História da Escravidão e Pós-Abolição, nas Famílias Negras e na História Oral. “O processo criativo partiu desse lugar, desse movimento Sankofa que tenho feito ao consultar a memória dos meus mais velhos e cruzar diversas fontes, desde registros de batismos, inventários, matrimônios, óbitos. Tudo isso me inspirou na criação dessa arte”, destaca.
Na arte principal podemos observar uma mulher africana com marcas étnicas no rosto carregando, em seu ventre, parte do símbolo Sankofa. “Os pés em movimento têm como base o continente africano que está ‘invertido’, comunicando força, poder e o olhar dos keméticos (egípcios) sobre o mundo. Com a outra mão ela segura o estado de Sergipe, mais precisamente, Estância, local por onde os africanos desembarcaram durante o tráfico de escravizados. Ela é o próprio Sankofa”, detalha Edwyn Gomes.
Sendo um artista multidisciplinar, não é a primeira vez que Edwyn cruza caminhos com a Egbé. Na sétima edição da mostra, seu documentário “Ancestral” foi um dos selecionados para compor a programação. “Não por acaso, 7 e 8 são números que me perseguem e estão muito presentes nas minhas raízes. Eu entendo que esses sinais indicam que estou trilhando um bom caminho. Todos sabem que a Egbé tem uma força enorme, o meu sentimento é de gratidão e de satisfação pelo acolhimento e pela escolha. Axé!”.