A Egbé Mostra de Cinema Negro tem o senso de aquilombamento em seu DNA, promovendo encontro entre cineastas negros e negras de todo o país e países de África sem deixar de homenagear e celebrar nossa ancestralidade e aqueles que nos abriram caminho. Na noite do último sábado, 09, aconteceu, no Youtube da Egbé, a mesa de homenagem ao cineasta Zózimo Bulbul que teve como um dos seus principais legados os Encontros de Cinema Negro.
Participaram do evento Biza Viana, esposa do cineasta e produtora executiva do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul e Vitor José, sobrinho de Zózimo e integrante do Centro Afro Carioca de Cinema Zózimo Bulbul. Na ocasião, foi entregue, de forma simbólica, o Troféu Severo D’Acelino à Biza Viana.
O encontro, mediado por Luciana Oliveira, teve um tom intimista e de celebração da memória do ator que nos deixou em 2013. Em sua fala, Biza Viana fez uma retrospectiva do trabalho de Zózimo Bulbul, considerado o pai do Cinema Negro. “No fim dos anos 80 ele continuou como ator, mas o filme dele foi muito mal lançado, então, cada vez mais, ele tomou consciência de quanto que ele tinha que ajudar e apoiar a visibilidade dos trabalhos pretos, a importância, como mostrar para os pretos e, também, para outras classes que não queriam olhar ou achavam que aquilo ela mal feito”, relembrou.
Biza Viana comentou, ainda, sobre a importância de eventos como a Egbé dentro do que o próprio Zózimo Bulbul considerava imprescindível. “Era isso que ele queria, que o cinema preto se expandisse, que tivesse novas caras e novos lugares. Eu acho que é uma via de mão dupla, tanto de vocês reconhecerem como ele ter querido muito que isso acontecesse”, afirmou.
Legado e autoestima preta
Para Vitor José, poder continuar esse legado que o Zózimo Bulbul deixou é uma experiência muito gratificante, apesar da responsabilidade. “Está sendo muito incrível poder me reconectar com ele agora, trabalhando no Centro Afro Carioca, conhecendo toda a magnitude desse projeto”, enfatizou.
Outra questão levantada por Vitor José foi a influência que o ator teve nos seus anos formativos. “Ter alguém tão perto, sendo artista, um ser criativo, pensante, um corpo preto que realiza tanto numa sociedade que diz o contrário, tem um impacto absurdo na minha vida. A gente nunca teve dúvida de que poderíamos fazer algo, de que eu poderia seguir minha carreira como publicitário, criativo, gestor, porque a gente teve a sorte e o privilégio de ter uma referência desde criança, a gente sempre teve o tio Zó para olhar, e isso impacta a educação de uma criança preta”, relatou emocionado.
Para além da esfera pessoal, Vitor José também reconhece o trabalho que Zózimo Bulbul fez pelo Cinema Negro. “Quando ele começou, era tudo mato e se tem alguém que teve essa força, essa gana, essa visão, para hoje a gente estar aqui nessa live é muito incrível. A gente vai abrir caminhos para outras pessoas também e, eu acho que esse é um caminho cíclico que cabe a nós manter”, destacou agradecido.
A live de homenagem a Zózimo Bulbul se encontra disponível na página da Egbé, no Youtube.