O aquilombamento que nos fortalece

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Na última quarta-feira, 13, uma noite de celebração aos reencontros, ao afeto e a nossa cultura afro-sergipana tomou o Museu da Gente Sergipana, em Aracaju. Depois de dois anos acontecendo, exclusivamente, de forma online devido a pandemia, a Egbé Mostra de Cinema Negro realizou seu primeiro evento presencial junto à Feira do Mangaio, uma parceria de anos. Na ocasião, também aconteceu a estreia do filme “O ano que a onça descansou”, de Yérsia Assis e Geilson Gomes, além de uma emocionante e potente apresentação do Samba de Aboio do povoado Aguada, em Carmópolis.

Tendo a proposta do aquilombamento em suas raízes, democratizando o acesso à vasta e potente produção cinematográfica negra brasileira, a mostra já realizou exibições presenciais em comunidades quilombolas e ribeirinhas no interior de Sergipe e em várias escolas públicas. “A Egbé é isso, é troca de energia, é o acolhimento, a gente vai crescendo a partir do público e a gente acredita que quando o público nos devolve esse acolhimento, a gente vai ganhando força para mais um ano. Ocupar espaços como o Museu é fundamental, e ele foi sensível a isso. Acreditamos que ocupando esses espaços a gente vai se fortalecendo e fortalecendo o público em geral”, destacou João Brazil, produtor executivo da Egbé.

Para o artista visual e produtor cultural Dalvan Dext, eventos como o que a Egbé promoveu são essenciais em Aracaju, “É importante fomentar a produção cultural e artística da cidade e, também, movimentar a cena. Esse espaço vem para fortalecer. A gente tem que nos fortalecer e são nesses espaços que rola essa conexão, essa troca de ideia, essa troca de experiências”, afirmou o artista visual.

Diane Veloso, atriz e vocalista da Banda dos Corações Partidos, também acredita na relevância que eventos como esse tem para o nosso estado. “É impossível não ter mais esse tipo de projeto. Sou uma admiradora e frequentadora da Egbé com muito prazer e alegria. Na verdade, eu parabenizo a Egbé, todos que fazem a mostra e todos os espaços que acolhem esse projeto”.

O ano que a onça descansou

O auditório do Museu da Gente Sergipana ficou pequeno para acolher o público que compareceu para assistir, também, à estreia do filme. Respeitando as regras de segurança do espaço, duas exibições foram realizadas e uma média de 200 pessoas puderam assistir a estreia. A produção, importantíssima para a celebração e memória da história afro-sergipana, é contada a partir de lembranças sobre o Samba de Aboio – festa/culto a Santa Bárbara/Iansã – realizado no povoado de Aguada, em Carmópolis, interior de Sergipe. O filme revela as memórias de um samba que não aconteceu.

Após a segunda exibição, a co-diretora Yérsia Assis, falou um pouco sobre o processo de realização e as motivações do filme. “A ideia era um filme sobre o samba acontecendo, mas a gente se viu na pandemia, meu avô faleceu e, mesmo sendo da Antropologia, eu tinha esse desejo de encarar o audiovisual e narrar através disso a história da minha família”, comentou.

O filme torna-se, então, sobre o samba que não aconteceu, é feito a partir de memórias e da dificuldade da diretora de voltar à Aguada depois do falecimento do seu avô. “Eu quero ver o que não deixou de acontecer e o próprio fortalecimento da minha família que, apesar da perda, segue unida. O filme é uma homenagem ao meu avô e estou muito feliz por ter gente da minha família aqui, consanguínea e do axé”, disse emocionada. “Meu sentimento é de satisfação de homenagear meu avô, homenagear esse legado que me fez ser essa mulher negra que eu sou”, finalizou.

Genilson Mota, um dos mestres do samba, veio de Aguada, junto ao grupo, para assistir ao filme e apresentar o Samba de Aboio. “Quero agradecer pelo filme, ele me fez lembrar da época em que eu era criança, vendo todos aqueles que já se foram tocar. Eu não tinha nem noção de ser um sambador, imagine um dos mestres. O Samba de Aboio faz parte da festa, mas o principal é a nossa devoção carregada pela família Mota e Assis, ajudada por toda a comunidade”, explicou Genilson Mota.

Feira do Mangaio

Lívia Porto possui, há quatro anos, a marca Tom diPreta e levou para a Feira do Mangaio produtos cosméticos voltados para cabelos crespos e cacheados. Ela viu no evento uma oportunidade de fortalecer o comércio afro-empreendedor. “A gente sabe que a taxa de desemprego está alta e também tem o lado de conhecer, aqui, produtos com foco nas nossas necessidades que não é tão comum encontrar”, afirmou.

Já o artista visual Fill acredita na importância que a Feira do Mangaio tem no sentido de oferecer oportunidade para artistas que estão chegando mostrar seu trabalho, além da troca de experiências dentro da cena. “É a minha segunda vez na feira e estar de volta, depois de tanto tempo por causa desse período pandêmico, está sendo muito importante e fortalece o mercado”, compartilhou. O artista também comentou sobre a troca que só um evento presencial proporciona. “Eu senti muita falta de estar com o pessoal trocando uma ideia, falando do meu trabalho e de outros amigos também, isso é sensacional”, finalizou.

Fotos: Monyse Mendonça