Compondo o volume 11 da Revista Rebeca, uma publicação da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, o artigo Espaço-Quilombo: Notas sobre mostras e festivais de Cinema Negro no Nordeste Brasileiro escrito por Luciana Oliveira, co-idealizadora da Egbé, junto às pesquisadoras Laila Oliveira e Naira Évine, traz um levantamento das mostras e festivais de cinema negro no Nordeste e analisa os modos de organização dessas equipes como espaços de aquilombamentos, articulando a discussão ao pensamento de Beatriz Nascimento sobre o conceito de quilombo como construção social.
Escrito por seis mãos, Luciana Oliveira admite que o processo de escrita coletiva é uma experiência muito enriquecedora dentro da esfera acadêmica. “Por vezes, a gente se encontra em momentos solitários na pesquisa e dividir o pensamento, as ideias, estabelecer trocas é muito positivo. Nós conversamos muito, compartilhamos nossas leituras, fizemos análise dos dados juntas, debatemos, e foi muito instigante”, afirma, complementando que o espaço acadêmico, fica mais leve com parcerias como essa.
Naira Évine também enxerga o processo de colaboração como enriquecedor para a pesquisa acadêmica, trazendo o conceito de aquilombamento e ajuntamento para a construção do trabalho. “Diante dos nossos debates, conversas, ensinamentos, diálogos, tudo se misturou, não tem parte de cada uma dividida de maneira cartesiana, tem fragmentos nossos em todas as frases. O respeito mútuo entre mulheres negras que entende as particularidades de cada uma foi um diferencial”, explica Naira Évine, destacando, também, que a feitura do artigo, ao contrário do que a academia hegemônica faz pensar, não foi dolorido, pelo contrário, foi fortalecedor.
Apresentado de maneira on-line na Avanca (Conferência Internacional de Cinema – Arte, Tecnologia, Comunicação), evento promovido em Portugal, Luciana Oliveira aponta que escrever um artigo analisando a construção da criação de festivais de cinema negro, lhe é um assunto muito caro por ela mesma estar envolvida com a produção de um, a Egbé Mostra de Cinema Negro. “Para mim é importante estar diretamente envolvida com a produção de um festival e poder refletir essa prática dentro do contexto acadêmico.”, ressalta.
O artigo, que tem como intenção refletir onde as narrativas do cinema negro do circuito independente estão sendo exibidas, ficou entre os mais lidos da página da revista durante o mês de agosto. “Ficamos felizes com o interesse do público pela discussão. O cenário do cinema negro do Nordeste é forte, possui uma boa concentração de produções, as mostras e festivais estão se fortalecendo, e outros estão surgindo. É gratificante saber que o nosso trabalho está possibilitando que pessoas do nordeste e de outras regiões possam acessar um pouco do cenário desses espaços-quilombos”, afirma Luciana Oliveira.
Já Naira Évine se sente no caminho certo, apontando que esse diálogo está, ainda, no seu início. “Precisamos, cada vez mais, estar atentes ao que estamos construindo enquanto arte, cinema, epistemologia. Se a gente não fala, em todos meios possíveis, seremos mais uma vez esquecides. Seja na academia, no audiovisual, na produção cultural, ou qualquer outra área que nos dediquemos. Esse artigo não foi o suficiente para falar tudo que ainda queremos debater, mas foi um excelente início”, finaliza.
O trabalho, apesar de acadêmico, foi escrito de maneira sensível e acessível, também, para aqueles que, mesmo fora do espaço universitário, estão interessados em entender como o cinema negro vem ganhando força no Brasil, principalmente no Nordeste. O texto também aponta quem são os produtores dessas mostras, além de mostrar como esses espaços se mostram como lugares de aquilombamento. Para ler o artigo completo, basta clicar aqui. Boa leitura!
Foto em destaque: Monyse Mendonça